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Crítica/Resenha | Coringa (2019)

Atualizado: 19 de mai. de 2020



O filme “Coringa” de Todd Phillips, evidencia uma trama pautada pela visão do cotidiano drástico de Arthur Fleck, um homem que trabalha como palhaço e vive com a mãe na cidade arruinada de Gotham, mostrando uma nova versão para uma personagem já explorado anteriormente no cinema e construindo, de maneira única e angustiante, o início da história de um vilão cânone da cultura mundial atual. Arthur Fleck, interpretado com maestria por Joaquin Phoenix, é um personagem com diversos problemas psicológicos, invisível à uma sociedade decadente e violenta. O roteiro demonstra um grande estudo de personagem, com a loucura tornando-se um dos principais recursos narrativos, transmitindo a complexidade do vilão, que sonhava em ser comediante. Além da narrativa intensa e intimista a respeito da construção da insanidade lúdica, o filme possui aspectos técnicos louváveis. A cidade de Gotham possui um odor, cor e textura construídos por meio da arte e da fotografia cinematográfica, transmitindo a insignificância dos políticos, que deveriam representar da cidade, gerando críticas sociais contra os privilégios da elite concentrada. A produção demonstra, dessa forma, o limite do emocional e do distúrbio emocional de um homem comum, seguido pela ascensão trágica de um grande vilão, que apesar de ter inúmeras camadas e gerar identificação e piedade do público, não deve ser encarado como nada mais que um grande vilão. O filme, dentre tantos outros quesitos, possui alguns elementos relacionados às vanguardas europeias de 1920, sobretudo quando comparado ao expressionismo alemão. Dessa forma, “Coringa” contém uma ligação com o gótico e efeitos dramáticos característicos de tal vanguarda. Além disso, possui componentes que o ligam ao filme “O gabinete do Dr. Caligari”, que é capaz de mostrar a aparência de um mundo impenetrável e imprevisível por meio do formato tortuoso do cenário, gerando inquietação e desconforto, igualmente ao o que ocorre na construção cenográfica de Gotham City, que possui uma composição de ambientes expressivos e uma fotografia repleta de contraste, gerando uma visão intimista da cidade em si, transformando- a em personagem. Ademais, a interpretação cheia de exageros e movimentos impactantes em relação à dança, postura e risada do Coringa, são construções fundamentais do cinema expressionista alemão, assim como a maquiagem pesada de palhaço e as cores fortes usadas, traduzindo visualmente os conflitos emocionais do personagem. Dessa forma, a vanguarda alemã compõe uma temática recorrente, como a presença de personagens sem bondade, isolados do mundo e uma narrativa ligada à alteração física e psicológica dos mesmos, traduzindo a maldade humana. Sendo assim, o filme “Coringa” constrói uma pequena ligação ao filme alemão de Fritz Lang, “Dr. Mabuse: O jogador”, que possui um caráter de crítica social e revela a insanidade como resultado de uma frustração, comparando- se, assim, à narrativa que transforma Arthur Fleck por meio de frustrações sociais, políticas e midiáticas, mostrando a insanidade em seu estado puro. Além do expressionismo alemão, o filme tem elementos da vanguarda surrealista ao colocar em evidência o papel do inconsciente no cotidiano de Arthur Fleck, por meio de visões alucinatórias, como a relação imaginativa que ele constrói com a vizinha, comparando-se à processos oníricos recorrentes do surrealismo. Ademais, o filme também contém minimamente componentes da vanguarda soviética ao intercalar política e estética, desenvolvendo um alto tom político na narrativa, através da contradição gerada entre a maioria dos cidadãos e a mínima elite proletariada. Por conseguinte, “Coringa” é um filme perturbador e marcante, feito com excelência em todos os quesitos de sua construção, intercalando elementos psicológicos, sociais e de determinadas vanguardas europeias, para desenvolver uma narrativa única e dar início à história de um grande e icônico vilão.

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